Olá pessoal, aqui estamos nós com a terceira
edição da nossa coluna. quem não viu as edições anteriores pode dar uma olhada nesses links:
Criando seu fanzine-parte 1
Criando seu fanzine-parte 2
Se você está acompanhando desde a primeira edição,
agora você tem uma boa idéia a respeito da história que deseja fazer. Então, finalmente está na hora de colocar nossas idéias nas páginas do seu fanzine.
Conforme estamos definindo nossos personagens e suas
motivações, e pensando nas características de sua futura história, podemos
imaginar qual vai ser o tamanho disso tudo. Na verdade, isso depende do que você quer contar, a complexidade da
história determina o quanto de páginas/capítulos sua história vai ter. Aqui eu
dou uma sugestão, mesmo que você não esteja fazendo nada profissional, com
limites pré-estabelecidos, é sempre bom se impor alguns limites, inclusive para
treinar. Até quando estamos fazendo uma história para “nós mesmos”, isso não
quer dizer que o número de páginas é ilimitado. Isso é algo que precisa ser
pensado agora, pois quando você estiver desenhando, você não vai poder colocar
“só mais uma página, pra encaixar!”, e vou explicar porque.
Se considerarmos como nosso limite uma história
“One-shot”, que não vai possuir continuidade direta, então temos que pensar
agora na quantidade de páginas, e isso deve ser feito em múltiplos de quatro,
sempre. Por que?
Simples, é por causa dos cadernos. Se pensarmos
no método mais simples de todos de encadernação, a chamada lombada canoa, vamos
perceber que ela nada mais é do que muitas folhas dobradas no meio! Cada folha
dessa é o chamado caderno. É fácil de testar, basta pegar uma folha A4 comum, e
dobrar no meio. Pronto, você tem um caderno, com quatro páginas, e seria menor
“revista” possível. Então, acrescentar páginas na verdade significa acrescentar
mais cadernos, e como você pode ver, não dá pra colocar só uma página, cada
acréscimo obrigatoriamente coloca quatro páginas, aumentando o tamanho da
revista e os custos. Então, quando pensamos em quantas páginas nossa pequena
história vai ter, devemos pensar num número de 8, 12, 16, 20, e assim por
diante. Não é impossível fazer uma historia com números “quebrados”, por
exemplo, uma história com 6 páginas, mas ainda assim, o número de cadernos é
impossível de se driblar, algo vai ter que ocupar as páginas “sobrando” (no
caso, teríamos dois cadernos, 8 páginas, e duas páginas em branco). Essas paginas extras podem ser usadas nos complementos de seu futuro fanzine, como páginas de editorial, fichas de personagens e até propagandas, em geral se separa um caderno apenas para isso. E lembrando
que isso deve incluir também uma capa simples, com a abertura do capítulo,
mesmo que seja um one-shot. Isso dá elegância a publicação.
Este é o exemplo mais simples de um caderno, uma folha A4 dobrada o meio
Voltando ao roteiro de exemplo que viemos criando ao longo
dessa coluna, vamos criar uma história one-shot, com 28 páginas, um teste antes
de fazer uma trama mais longa, se ela realmente ficaria legal. Como só temos 28
páginas para trabalhar, não dá pra mostrar toda uma longa trajetória de
vingança. O que podemos fazer é mostrar, por exemplo, uma apresentação da
trama, ou uma história prévia, mostrando como o garoto se preparou para sua
futura vingança. Sendo que temos que mostrar, além dos diálogos e a
apresentação em si, um pouco da ação que a história possui. E agora, como
encaixar isso nas poucas páginas disponíveis? Vou mostrar o método que eu uso
para isso.
Para começar, vamos separar os atos desta história,
definindo bem o inicio, meio e fim da trama. O início pode mostrar o lugar
aonde a história vai se passar, digamos na zona portuária da cidade. Nosso
protagonista vai acabar com um dos negócios do vilão, que transporta
trabalhadores ilegais através de contêineres. A história pode começar
exatamente assim, com a chegada de um novo "carregamento", e um dos
cúmplices do vilão falando com ele, antes que ele vá embora em sua
limusine. Vamos conhecer a motivação do
protagonista em flashbacks bem curtos, mostrando o seu pai sendo morto. Desta
vez, o vilão ainda não é o alvo principal, isso fica para outro número. Depois
disso, o protagonista começa a preparar sua armadilha. Sua forma de agir vai
ser furtiva, derrubando alguns capangas. Ele quer pegar os bandidos no flagra,
então avisa ao seu amigo policial via celular. Assim, quando tentam sair com os contêineres, nosso herói usa um guindaste para bloquear a saída dos caminhões.
Ao invés de um ataque direto, ele vai minando a resistência dos bandidos, de
modo furtivo, deixando-os sem reação, em pânico, até que só reste o capanga
principal, esse ele vai enfrentar diretamente, pois quer passar um recado ao
assassino de seu pai, que ele estava começando seus atos de vingança.
Agora, voltamos ao nosso desafio: como encaixar isso tudo
em 28 páginas? Para tornar isso mais facil, vamos deixar esse número menos abstrato. Como temos 28 páginas,
pegue um papel e desenhe 27 quadradinhos. Essas são as páginas que realmente
temos disponíveis (uma é a capa).
Agora, mais do que apenas saber quantas
páginas temos, podemos VER essas páginas, temos uma referencia visual da quantidade.
Então, é hora de olhar para as etapas da história que escrevemos anteriormente,
e ir imaginando quantas paginas vamos "gastar" com cada etapa. Por
exemplo, a abertura da história pode gastar uma página, só mostrando o ambiente
do porto. Mostrar o vilão falando com seu capanga, enquanto o herói se esgueira
pelas sombras, pode usar mais duas páginas. Saber quanto você precisa exige um
pouco de abstração, junto com sua experiência com quadrinhos, para saber o
quanto basta para cada etapa. Em geral, sequencias de luta exigem mais páginas.
O importante é, a cada etapa determinada, você deve riscar o número de páginas
usadas em cada uma, assim fica muito fácil perceber quantas páginas você ainda
tem, e dá até para antecipar se você gastou muita coisa numa etapa, ou se
poderá deslocar mais páginas para uma etapa mais complexa.
E, falando em desenho, uma vez que o nosso
“mapa” está pronto, é hora de preparar o layout, um grande rascunho da história
inteira. Tem muitas maneiras de se fazer isso, você pode achar modelos
diferentes de layout na própria internet, mas basicamente, nós temos uma
pequena página, e um campo ao lado onde se pode fazer anotações sobre essa
página:
Este modelo é similar ao usado em storyboards para vídeo e cinema,
onde temos um quadro com a imagem e um campo ao lado para descrição.
No meu caso eu faço algo ainda mais simples,
basicamente eu dobro ao meio uma folha A4 3 vezes, até obter 8 pequenas “páginas” em
A6. Nelas, eu coloco a marcação das páginas, que já foram determinadas no mapa:
Independente do formato de layout que você adotar, agora basta desenhar a história,
literalmente, nessas pequenas páginas, de uma forma MUITO simples, pois se trata apenas de rascunho, um
guia para quando você for fazer as páginas de verdade. Entretanto, não deixe de
determinar as linhas gerais das páginas, incluindo os quadros e até os balões,
para você ter uma noção que a sua idéia sobre determinada cena realmente vai
funcionar, quando for feita para valer. Aqui a sua experiência e “bagagem”
citadas nos números anteriores desta coluna vão ser bastante testados, para tirar
proveito do espaço de página disponível. Inclusive, se o mapa de páginas não
foi bem dimensionado, aqui isso vai ficar bem evidente. Se você determinou que
só teria duas páginas para uma seqüência de ação muito complexa, na hora de
fazer o layout você vai sofrer pra encaixar essa seqüência nas poucas páginas
que separou.
Exemplo de uma página rascunhada no layout. O desenho é bem simples,
mas já se pode entender em linhas gerais o formato geral
Essa etapa também é bastante trabalhosa, mas é vital para
um bom resultado. Imagine se você ignora tudo isso, começa a desenhar “pra
valer” sem planejar nada, e depois de fazer várias paginas maravilhosas, você
descobre que não tem páginas suficientes para acabar sua história...todo o
trabalho que você teve foi inútil! Tudo isso que estou mostrando é a minha
metodologia, para evitar que isso aconteça. Não é a única, e nem é a "certa",
neste assunto não existe um certo ou errado, desde que o método adotado
funcione, qualquer um está valendo. Você pode adotá-la, ou criar a sua própria
metodologia, só não deixe de se planejar, para evitar ter que refazer páginas e
desanimar.
Bem, depois desta etapa na nossa coluna, esta na hora de botar a mão na massa, e colocar suas idéias no papel, é bastante trabalho mas não desanime! A partir da próxima edição vou dar algumas dicas em relação ao desenho
e arte final da sua história. Até a próxima!
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